quarta-feira, dezembro 23

Testemunho real: como o André entrou e saiu do mundo da droga.

Alemanha, 19 de dezembro de 2009.




Chamo-me André Carvalho Marques, nasci em 23 de janeiro de 1982, natural de Feira de Santana-BA, meu pai Antônio Gerson Sena Marques e mãe Rita de Cássia Carvalho Marques.


Quando nasci fiquei alguns dias sem nome, eu sou o primeiro neto por parte de pai e meu avô muito feliz com o primeiro neto, sugeriu a minha mãe colocar o meu nome de Idelfonso, que olhando no Almanaque esse seria o nome de sorte para mim, porém minha mãe não gostou muito da idéia e disse-o que era muito feio esse nome e iria ver outro. Nisso eu fiquei uns 15 dias sem nome e certo dia mamãe acompanhando uma Missa transmitida pelo rádio escutou o Evangelho de Marcos ( 1 ; 16-18), onde Jesus chamava aos discípulos a segui-lo, e no meio desses estava o André irmão de Simão que eram pescadores e Jesus os chamavam a serem pescadores de homens , por isso pensou em colocar-me esse nome , mas minha vó não gostou muito porque conhecia algumas pessoas com o nome de André que não faziam coisas muito boa , mas assim fui registrado com o nome de André.Após 6 meses meu avó faleceu e mamãe ficou com um pouco de remocio por não ter colocado o nome que ele queria, mas com esse nome fiquei.








Tenho duas irmãs, uma com 23 e outra com 22 anos. Desde a minha infância fui muito querido pela minha família, mas quando tinha meus 6 a 7 anos, não me recordo bem a idade, houve a separação dos meus pais, onde minha mãe saiu de casa com minhas duas irmãs e foram morar em outro lugar e eu fiquei morando com vovó (mãe de papai) e papai continuo morando em frente a casa de vovó. Isso foi uma dor muito grande para mim, sofria muito com isso, ao me deitar, todas as noites em meu quarto sozinho chorava muito quando lembrava da separação dos meus pais, como morava só vóvó e eu me sentia muito só, mesmo com tudo isso sempre vinha mamãe e minhas irmãs e papai o contato era todos os dias, mas era muito diferente de viver juntos e um dos motivos da separação foi por causa da bebida de papai e com a separação ele se entregou totalmente a bebida e me doía muito o vendo bebendo, às vezes ia buscá-lo no bar porque não agüentava chegar a casa, e tudo isso não falava a ninguém, ficava preso dentro de mim e criava um vazio. Às vezes presenciava vóvó fazer vários trabalhos em Candomblé para ver se curava papai da bebida, mas só fazia piorar.





Eu não conseguia aceitar essa situação familiar, sempre fui bom aluno, nunca perdi um ano letivo, fiquei somente uma vez em recuperação em uma matéria. Aos 10 anos comecei a andar na rua com os colegas , quando estava com eles esquecia por alguns momentos todas essas dores que passava, achava que a vida era aquilo, brincar e se divertir ao ponto de com 13 anos experimentar o cigarro de haxixe, tudo para preencher o vazio que existia dentro de mim, para ver se esquecia, mas não adiantava, fui me envolvendo sempre mais, minha família quando veio abrir os olhos já estava super envolvido, cheguei a me viciar na cocaína e para sustentar o vicio tive que começar a pegar as coisas dos outros, dentro de casa, dinheiro de vóvó e o que eu achasse pela frente, minha vida virou um terror.





Com 15 anos , quando minha família soube do que estava fazendo, me forçou ir a um centro de recuperação próximo a minha cidade, mas só fiquei lá 7 dias e fugi , ao retornar, não fui morar mais com vóvó, fui morar com mamãe e minhas irmãs , mas não deixava de andar na casa de vóvó e papai que era próximo, já não parava mais em casa e fiz todos eles sofrerem muito. Cheguei a comercializar drogas e a fumar crak, foi o fundo do poço pra mim e minha família. Quando meu pai soube que eu estava usando drogas, começou a se entregar mais ainda no álcool, porque seria a maior dor do mundo para ele, saber que eu estava usando drogas.








Com meus 17 anos não tinha mais esperança nenhuma de vida, chegar aos meus 18 anos já não se passava de um sonho devido à vida que estava levando. Toda vez quando eu chegava em casa na madrugada dopado, mamãe me dizia: “MEU FILHO, EU NÃO VOU VER VOCÊ MORRER NESSA , NÃO FOI PARA ISSO QUE VOCÊ VEIO AO MUNDO, UM DIA AINDA VOCÊ VAI SER PESCADOR DE HOMENS”.Confesso, que não dava muita importância para isso. Foi quando mamãe um dia me fez um convite, lembro-me como hoje sentada no sofá de casa comigo, olhando nos meus olhos me perguntava: “ Meu filho você quer mudar de vida?” e continuava me falando da Fazenda da Esperança e de uma rapaz que se chamava Alexandre, ele tinha passado o mesmo problema que eu e estava na Fazenda da Esperança, mas esses dias ele estava visitando a sua família em Feira e se eu não gostaria de conversar com ele para ir pra Fazenda e aceitei conversar com ele e na conversa decidir ir para a Fazenda e falei para mamãe assim: ”Mamãe, nem que seja a ultima coisa que eu faça em minha vida, eu vou a Fazenda, porém se eu não gostar de lá no outro dia estarei de volta e pode me deixar de mão”. A principio fui escondido de papai, porque ele não iria aceitar uma internação minha em um centro de recuperação, na sua concepção se eu quisesse largaria em casa, e nessas aventuras toda eu chegava na Fazenda da Esperança São Miguel em Lagarto- SE no dia 29 de março de 1999.





No inicio não entendia nada, mas sentia algo diferente neste lugar, observava pessoas com problemas maiores que os meus e eram alegres e felizes, mas eu não sabia por quê.








Escutava muito a linguagem do Amor, mas com a vida que tive no mundo, fica imaginando como poderia Amar outro homem, aos poucos fui percebendo que o Amor era cada gesto que eu fazia ao próximo, com o pegar um papel do chão, forra a cama de um irmão e outros factos, mas a caminhada não foi tão fácil. Lembro-me que ao escrever a primeira carta para papai dizendo onde eu estava, dias depois recebi a resposta dele se lamentando por ter sido o último a saber.


Com 3 meses na Fazenda fui chamado a ser coordenador de uma casa, para mim foi um momento de muito crescimento e a alegria que eu procurava nas drogas encontrava em cada ato concreto de Amor que fazia ao meu próximo. Lembro-me de quantas as vezes que tinha alguém doente eu ia atrás de remédio para levar pra ele na cama, como isso me fazia um bem e assim fui construindo a minha caminhada na Fazenda.


Durante o meu período de recuperação, foram poucas visitas que recebi da minha família, era difícil, por que com a experiência que estava fazendo via à importância de se estabelecer esse relacionamento com a família e dentro da Fazenda seria uma grande chance, mas nunca desanimei e fui para frente.







Completei 1 ano e sentia fortemente o desejo de continuar essa experiência de viver no meio dos jovens e assim doando a minha vida para Deus. Mas sentia também que a minha droga não era somente a maconha, cocaína e o crak, mas sim aceitar a minha família como ela era. Com isso sentia que ainda me faltava o relacionamento com minha família, comecei a ir em casa passar 10 dias, outras vezes 20 e assim por diante e nessas idas sempre encontrava as coisas do mesmo jeito, meu pai ainda bebendo e me doía muito, porém agora tinha claro que deveria ama-lo desse jeito, não cobrando nada e sim comecei a ama-lo. Em uma dessas idas minha em casa, estava chovendo muito e a casa dele estava cheia de goteiras, não conseguia subir no estado que estava, então subi em cima da casa e concertei todas as goteiras, outro dia me pediu para comprar uma bebida, na hora pensei comigo: “Sofro vendo papai beber e agora vou comprar bebida pra ele?” Mas senti que nesta hora seria uma chance que teria de ama-lo, porque se eu não fosse ele iria e poderia acontecer alguma coisa pior, já estava embriagado, fui e comprei.




E uma experiência que me marcou profundamente foi que eu tinha passado uma carta por fax no dia de seu aniversário que era no dia 28 de janeiro, o meu é dia 23 de janeiro, ele tinha feito uma carta pra mim, porém não tinha colocada no correio. Em uma dessas idas em casa em agosto de 2002, o encontrei mais uma vez embriagado, mesmo estando assim me chamava para sentar na cama e pedia-me para ler a carta que tinha feito no dia do meu aniversário, mas não tinha enviado; na carta falava de quanto estava feliz da vida que eu estava levando, o quanto me amava e que eu era um filho muito querido por ele e em seguida me dava dois beijos no rosto, na hora não contive as lagrimas, porque esse fato era algo que eu não me lembrava de meu pai já ter feito comigo.




Com minha mãe nessas idas em casa, sempre quando eu ia sair à noite, fazia a experiência de dizer para onde eu ia, com que e que horas chegava coisa que nunca eu tinha feito, quantas das vezes que conversávamos até tarde da noite e tudo isso me dava uma alegria plena.



Essas experiências me ajudaram a ficar livre para atender o chamado que sinto de Deus a viver no meio dos jovens.






Os anos se passaram, passei 5 anos na Fazenda em Sergipe onde tudo começou para mim, fiquei 3 anos que na Fazenda da Esperança São Domingos em Porto Nacional-TO e hoje sou um consagrado da Obra e me sinto realizado como homem.




Quando posso, vou uma vez ao ano visitar a minha família que hoje muito valorizo. E para maior alegria papai já está com 6 anos sem beber, com isso vejo a manifestação de Deus.



E sempre me lembro da frase que minha mãe me dizia quando eu chegava em casa na madrugada dopado: “MEU FILHO, EU NÃO VOU VER VOCÊ MORRER NESSA , NÃO FOI PARA ISSO QUE VOCÊ VEIO AO MUNDO, UM DIA AINDA VOCÊ VAI SER PESCADOR DE HOMENS “.




Agora estou a 2 anos na Fazenda da Alemanha, onde no inicio fiz uma experiencia de viver o Amor concretamente em atos, porque até entao não tinha possibilidade de falar por causa que não dominava o idioma.





Quando vejo que estou com 27 anos,


só tenho a agradecer a Deus,


e a minha forma concreta de agradecimento


é doando a minha vida a Ele nesta causa dos excluídos.





Tenho 10 anos de Fazenda e sempre mais me sinto feliz nesta vida que levo.


Hoje tenho algo que me alimenta e me ajudar a passar por todos os meus problemas que é O AMOR A DEUS E AO PRÓXIMO e assim tenho a alegria de dizer que nasci de novo.


André Carvalho Marques

quinta-feira, dezembro 17

Portugal luta para inaugurar a primeira Fazenda da Esperança





Os fundadores da Fazenda da Esperança já visitaram o terreno e gostaram; os portugueses já visitaram a comunidade terapêutica no Brasil e ficaram encantados; agora é a hora de trabalharem para a inauguração dessa obra em Portugal.





Eles não têm medido esforços para isso acontecer e nos escrevem como tem sido os trabalhos para estruturar a primeira comunidade naquele país. Boa leitura!




segunda-feira, julho 6

Missa Solene no Barco - Pe. Celso

Aclamação ao Evangelho:

Cântico de ofertório:

segunda-feira, junho 29

Uma semana com o Pe. HUGO MARTINS

O Silêncio e a multidão...
O Silêncio para escutar Deus que nos fala, é um segredo que todos devemos ter presente. No entanto o eco deste silêncio, é eco do Povo Santo de Deus, quando na fidelidade ao mesmo Senhor que chama. De ontem recordo muito, mas permiti que saliente: o fervor, o sorriso, as lágrimas, os abraços, o beija mão, as dezenas das crianças (e aquela tão pequena que tive de a levantar para lhe poder ver o rosto) que em multidão participaram do rosto belo Cristo na Sé-Catedral.
Contem comigo e com toda a minha humilde oração.
Pe. Hugo Martins

sexta-feira, maio 22

Pope2you

O Santo Padre dirigiu uma mensagem especial aos jovens por causa 43 Jornada Mundial das comunicações sociais.
Podes ver aqui a sua mensagem

domingo, maio 10

Fazenda da Esperança: que são?



Este video foi produzido como recordação da abertura de uma nova Fazenda da Esperança no sul da Alemanha (Irsee).

A recuperação dos internos na Fazenda da Esperança acontece basicamente através da terapia espiritual e ocupacional. Estudos bíblicos, meditações são a parte espiritual. Serviços no campo, trabalhos manuais e domésticos compões a parte ocupacional.

Frei Hans garante que o crescimento espiritual faz parte da essência humana. Para mim são necessários emprego e educação. Educação e formação. Quando um país cresce materialmente e não cresce espiritualmente, eu tenho medo. Torna-se depois uma coisa insuportável, difícil. Material e espiritual têm que caminhar juntos. Nós tentamos separar, mas não é possível, não somos só uma coisa. Nós temos alma, espírito, corpo e temos que respeitar tudo. Como o arco-íris que tem sete cores, quando elas se unem, nós temos o branco, a luz, a sabedoria. Quando excluímos alguma coisa na vida, seja espiritual ou outra parte, intelectual e outras, nós não temos a luz, precisamos desenvolver tudo, corpo e alma, espírito, físico e tudo. Assim nós seremos homens iluminados.
veja aqui

segunda-feira, março 30

SENHOR, quero ver Jesus

Faz, Senhor,
que reconheça
o teu rosto no rosto dos mais pobres.
Dá-me olhos para ver os caminhos
da justiça e da solidariedade;
dá-me ouvidos para escutar
os pedidos de salvação e de saúde;
enriquece o meu coração
de fidelidade generosa
para que me faça
companheiro de caminhada
e testemunha verdadeira
e sincera da glória, que
resplandece no crucificado,
ressuscitado e vitorioso.

terça-feira, março 24

terça-feira, março 10

MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI PARA A XXIV JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE (5 DE ABRIL DE 2009)

“Pusemos a nossa esperança em Deus vivo” (1 Tm 4, 10)


Queridos amigos!

Celebraremos no próximo Domingo de Ramos, a nível diocesano, a xxiv Jornada Mundial da Juventude. Enquanto nos preparamos para esta celebração anual, penso de novo com profunda gratidão ao Senhor no encontro que se realizou em Sidney, em Julho do ano passado: encontro inesquecível, durante o qual o Espírito Santo renovou a vida de numerosíssimos jovens que se reuniram de todo o mundo. A alegria da festa e o entusiasmo espiritual, experimentados durante aqueles dias, foram um sinal eloquente da presença do Espírito de Cristo. E agora estamos encaminhados para o encontro internacional em programa para Madrid em 2011, que terá como tema as palavras do Apóstolo Paulo: “Enraizados e edificados em Cristo, firmes na fé” (cf. Cl 2, 7). Em vista deste encontro mundial dos jovens, queremos realizar juntos um percurso formativo, reflectindo em 2009 sobre a afirmação de São Paulo: “Pusemos a nossa esperança em Deus vivo” (1 Tm 4, 10), e em 2010 sobre a pergunta do jovem rico a Jesus: “Bom Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna?” (Mc 10, 17).

A juventude tempo da esperança

Em Sidney, a nossa atenção concentrou-se sobre o que o Espírito Santo diz hoje aos crentes, e em particular a vós, queridos jovens. Durante a Santa Missa conclusiva, exortei-vos a deixar-vos plasmar por Ele para serdes mensageiros do amor divino, capazes de construir um futuro de esperança para toda a humanidade. A questão da esperança está, na realidade, no centro da nossa vida de seres humanos e da nossa missão de cristãos, sobretudo na época contemporânea. Todos sentimos a necessidade da esperança, não de uma esperança qualquer, mas sim de uma ersperança firme e de confiança, como eu quis ressaltar na Encíclica Spe salvi. Em particular, a juventude é tempo de esperanças, porque olha para o futuro com várias expectativas. Quando se é jovem alimentam-se ideais, sonhos e projectos; a juventude é o tempo no qual amadurecem opções decisivas para o resto da vida. E talvez também por isto é a estação da existência na qual emergem com vigor as perguntas fundamentais: por que estou na terra? Qual é o sentido do viver? Que será da minha vida? E ainda: como alcançar a felicidade? Por que o sofrimento, a doença e a morte? O que existe depois da morte? Perguntas que se tornam insuportáveis quando nos devemos confrontar com obstáculos que por vezes parecem insuperáveis: dificuldades nos estudos, falta de trabalho, incompreensões na família, crises nas relações de amizade ou na construção de um entendimento conjugal, doenças ou deficiências, carência de recursos adequados como consequência da actual difundida crise económica e social. Então perguntamos: de onde haurir e como manter viva no coração a chama da esperança?

Na raiz da “grande esperança”

A experiência demonstra que as qualidades pessoais e os bens materiais não são suficientes para garantir a esperança da qual o coração humano está em busca constante. Como escrevi na citada Encíclica Spe salvi, a política, a ciência, a técnica, a economia e qualquer outro recurso material sozinhos não são suficientes para oferecer a grande esperança que todos desejamos. Esta esperança “só pode ser Deus, que abraça o universo e nos pode propor e dar aquilo que, sozinhos, não podemos conseguir” (n. 31). Eis por que uma das consequências principais do esquecimento de Deus é a evidente desorientação que marca as nossas sociedades, com consequências de solidão e violência, de insatisfação e perda de confiança que não raro terminam no desespero. É clara e forte a chamada que nos vem da Palavra de Deus: “Maldito o homem que confia noutro, que da carne faz o seu apoio e cujo coração vive distante do Senhor. Assemelha-se ao cardo do deserto, que, mesmo que lhe venha algum bem, não o sente” (Jr 17, 5-6).

A crise de esperança atinge mais facilmente as novas gerações que, em contextos socioculturais privados de certezas, de valores e de sólidos pontos de referência, encontram-se a enfrentar dificuldades que são maiores do que as suas forças. Penso, queridos amigos, em tantos coetâneos vossos, feridos pela vida, condicionados por uma imaturidade pessoal que muitas vezes é consequência de um vazio familiar, de opções educativas permissivas e libertárias e de experiências negativas e traumáticas. Para alguns e infelizmente não são poucos a saída quase obrigatória é uma fuga alienante com comportamentos de risco e violentos, na dependência de drogas e álcool, e em muitas outras formas de mal-estar juvenil. Contudo, também em quem se vem a encontrar em condições difíceis por ter seguido conselhos de “maus mestres”, não se apaga o desejo de amor verdadeiro e de autêntica felicidade. Mas como anunciar a esperança a estes jovens? Nós sabemos que só em Deus o ser humano encontra a sua verdadeira realização. O compromisso primário que interpela todos é portanto o de uma nova evangelização, que ajude as novas gerações a redescobrir o rosto autêntico de Deus, que é Amor. A vós, queridos jovens, que estais em busca de uma esperança firme, dirijo as mesmas palavras que São Paulo dirigia aos cristãos perseguidos na Roma de então: “Que o Deus da esperança vos encha plenamente de alegria e de paz na vossa crença, para que abundeis na esperança pela virtude do Espírito Santo” (Rm 15, 13). Durante este ano jubilar dedicado ao Apóstolo das Nações, por ocasião do bimilénio do seu nascimento, aprendamos dele a tornar-nos testemunhas credíveis da esperança cristã.

São Paulo testemunha da esperança

Encontrando-se imerso em dificuldades e provações de vários tipos, Paulo escrevia ao seu fiel discípulo: “Pusemos a nossa esperança em Deus vivo” (1Tm 4, 10). Como tinha nascido nele esta esperança? Para responder a esta pergunta devemos partir do seu encontro com Jesus ressuscitado no caminho de Damasco. Nessa época Saulo era um jovem como vós, com cerca de vinte ou vinte e cinco anos, seguidor da Lei de Moisés e decidido a combater com todos os meios quantos ele considerava inimigos de Deus (cf. Act 9, 1). Quando estava a caminho de Damasco para prender os seguidores de Cristo, foi envolvido por uma luz misteriosa e ouviu chamar pelo nome: “Saulo, Saulo, por que me persegues?”. Caindo por terra, perguntou: “Quem és Tu, Senhor?”. E aquela voz respondeu: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues!” (cf. Act 9, 3-5). Depois daquele encontro, a vida de Paulo mudou radicalmente: recebeu o Baptismo e tornou-se apóstolo do Evangelho. No caminho de Damasco, ele foi interiormente transformado pelo Amor divino que encontrou na pessoa de Jesus Cristo. Um dia escreverá: “A vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, que me amou e Se entregou a Si mesmo por mim” (Gl 2, 20). De perseguidor, tornou-se portanto testemunha e missionário: fundou comunidades cristãs na Ásia Menor e na Grécia, percorrendo milhares de quilómetros e enfrentando toda a espécie de peripécias, até ao martírio em Roma. Tudo por amor a Cristo.

A grande esperança está em Cristo

Para Paulo a esperança não é só um ideal ou um sentimento, mas uma pessoa viva: Jesus Cristo, Filho de Deus. Persuadido intimamente desta certeza, poderá escrever a Timóteo: “Pusemos a nossa esperança em Deus vivo” (1Tm 4, 10). O “Deus vivo” é Cristo ressuscitado e presente no mundo. É Ele a verdadeira esperança: Cristo que vive connosco e em nós e que nos chama a participar na sua própria vida eterna. Se não estamos sozinhos, se Ele está connosco, aliás, se é Ele o nosso presente e o nosso futuro, por que temer? A esperança do cristão é portanto desejar “o Reino dos céus e a vida eterna como nossa felicidade, pondo toda a confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos, não nas nossas forças, mas no socorro da graça do Espírito Santo” (Catecismo da Igreja Católica, 1817).

O caminho rumo à grande esperança

Assim como um dia encontrou o jovem Paulo, Jesus deseja encontrar também cada um de vós, queridos jovens. Sim, antes de ser um nosso desejo, este encontro é um desejo profundo de Cristo. Mas alguns de vós poderiam perguntar: como posso eu, hoje, encontrá-l’O? Ou também, de que modo Ele se aproxima de mim? A Igreja ensina que o desejo de encontrar o Senhor já é fruto da sua graça? Quando na oração expressamos a nossa fé, também na obscuridade já O encontramos porque Ele se oferece a nós. A oração perseverante abre o coração para O acolher, como explica Santo Agostinho: “O Senhor nosso Deus quer que nas orações se exercite o nosso desejo, de modo que nos tornemos capazes de receber o que Ele pretende dar-nos” (Cartas 130, 8, 17). A oração é dom do Espírito, que nos torna homens e mulheres de esperança, e rezar mantém o mundo aberto a Deus (cf. Enc. Spe salvi, 34).

Dai espaço à oração na vossa vida! Rezar sozinho é bom, mas ainda melhor e mais proveitoso é rezar juntos, porque o Senhor garantiu que está presente onde estiverem dois ou três reunidos no seu nome (cf. Mt 18, 20). Existem muitas formas de se familiarizar com Ele; existem experiências, grupos e movimentos, encontros e itinerários para aprender assim a rezar e a crescer na experiência da fé. Participai na liturgia nas vossas paróquias e alimentai-vos abundantemente da Palavra de Deus e da participação activa nos Sacramentos. Como sabeis, ápice e centro da existência e da missão de cada crente e comunidade cristã é a Eucaristia, sacramento de salvação na qual Cristo se faz presente e doa como alimento espiritual o seu próprio Corpo e Sangue para a vida eterna. Mistério deveras inefável! Em volta da Eucaristia nasce e cresce a Igreja, a grande família dos cristãos, na qual se entra com o Baptismo e nos renovamos constantemente graças ao sacramento da Reconciliação. Depois, os baptizados, mediante a Crisma, são confirmados pelo Espírito Santo para viver como autênticos amigos e testemunhas de Cristo, enquanto os Sacramentos da Ordem e do Matrimónio os tornam preparados para realizar as suas tarefas apostólicas na Igreja e no mundo. A Unção dos enfermos, por fim, faz-nos experimentar o conforto divino na doença e no sofrimento.

Agir em sintonia com a esperança cristã

Queridos jovens, se vos alimentardes de Cristo e viverdes imersos n’Ele como o apóstolo Paulo, não podereis deixar de falar d’Ele, de O fazer conhecer e amar por tantos vossos amigos e coetâneos. Tendo-vos tornado seus fiéis discípulos, sereis assim capazes de contribuir para formar comunidades cristãs impregnadas de amor como aquelas das quais fala o livro dos Actos dos Apóstolos. A Igreja conta convosco para esta empenhativa missão: não vos desencoragem as dificuldades e as provas que encontrardes. Sede pacientes e perseverantes, vencendo a natural tendência dos jovens para a pressa, para querer tudo e já.

Queridos amigos, como Paulo, testemunhai o Ressuscitado! Fazei-O conhecer a quantos, vossos coetâneos ou adultos, estão em busca da “grande esperança” que dê sentido à sua existência. Se Jesus se tornou a vossa esperança, dizei-o também aos outros com a vossa alegria e com o vosso compromisso espiritual, apostólico e social. Habitados por Cristo, depois de ter posto n’Ele a vossa fé e de lhe ter dado toda a vossa confiança, difundi esta esperança ao vosso redor. Fazei escolhas que manifestem a vossa fé; mostrai que compreendestes as insídias da idolatria do dinheiro, dos bens materiais, da carreira e do sucesso, e não vos deixeis atrair por estas quimeras falsas. Não cedais à lógica do interesse egoísta, mas cultivai o amor ao próximo e esforçai-vos por colocar a vós mesmos e as vossas capacidades humanas e profissionais ao serviço do bem comum e da verdade, sempre prontos a responder “a quem vos perguntar a razão da vossa esperança!” (1 Pd 3, 15). O cristão autêntico nunca está triste, mesmo quando tem que enfrentar provas de vários tipos, porque a presença de Jesus é o segredo da sua alegria e da sua paz.

Maria Mãe da Esperança

Modelo deste itinerário de vida apostólica seja para vós São Paulo, que alimentou a sua vida de fé e esperança constantes seguindo o exemplo de Abraão, do qual escreve na Carta aos Romanos: “Ele mesmo, contra o que podia esperar, acreditou que havia de ser pai de muitas nações” (Rm 4, 18). Por estas mesmas pegadas do povo da esperança formado pelos profetas e pelos santos de todos os tempos nós prosseguimos rumo à realização do Reino, e no nosso caminho acompanhe-nos a Virgem Maria, Mãe da Esperança. Aquela que encarnou a esperança de Israel, que doou ao mundo o Salvador e permaneceu, firme na esperança, aos pés da Cruz, é para nós modelo e amparo. Sobretudo, Maria intercede por nós e guia-nos na escuridão das nossas dificuldades para o alvorecer radioso do encontro com o Ressuscitado. Gostaria de concluir esta mensagem, queridos jovens amigos, fazendo minha uma bela e conhecida exortação de São Bernardo inspirada no título de Maria Stella maris, Estrela do mar: “Tu que na instabilidade contínua da vida presente, te vês mais a flutuar entre as tempestades do que a caminhar na terra, mantém fixo o olhar no esplendor desta estrela, se não quiseres ser aniquilado pelos furacões. Se insurgem os ventos das tentações e te encalhas entre as rochas das tribulações, olha para a estrela, invoca Maria… Nos perigos, nas angústias, nas perplexidades, pensa em Maria, invoca Maria… Seguindo os seus exemplos não te perderás; invocando-a não perderás a esperança; pensando nela não cairás no erro. Amparado nela não escorregarás; sob a sua protecção nada recearás; com a sua guia não te cansarás; com a sua protecção alcançarás a meta” (Homilias em louvor da Virgem Mãe, 2, 17).

Maria, Estrela do mar, sê tu a guiar os jovens do mundo inteiro ao encontro com o teu Filho divino Jesus, e sê ainda tu a celeste guarda da sua fidelidade ao Evangelho e da sua esperança.

Ao garantir a minha recordação quotidiana na oração por todos vós, queridos jovens, abençoo de coração a vós e às pessoas que vos são queridas.

Vaticano, 22 de Fevereiro de 2009.