sábado, setembro 10

Homilia do Papa aos Seminaristas

Queridos seminaristas: Saúdo-vos a todos com grande afeto, agradecendo vossa jovial acolhida e, sobretudo, que tenhais vindo a este encontro de numerosos países dos cinco continentes. Dirijo-me antes de tudo ao Seminarista, ao Sacerdote e ao Bispo que nos ofereceram seu testemunho pessoal. Obrigado de coração. Estou feliz de ter este encontro convosco. Quis que, no programa destes dias em Colônia, tivesse um encontro especial com os jovens seminaristas, para ressaltar de maneira mais explícita e vigorosa a dimensão vocacional que têm sempre as Jornadas Mundiais da Juventude. Seguramente, estais vivendo esta experiência com uma intensidade muito particular, precisamente porque sois seminaristas, ou seja, jovens que se encontram em um tempo forte de busca de Cristo e de encontro com Ele, em vista de uma missão importante na Igreja. Isto é o seminário: não tanto um lugar, mas um tempo significativo na vida de um discípulo de Jesus. Imagino o eco que podem ter em vosso interior as palavras do lema desta vigésima Jornada mundial --«Viemos adorá-lo»-- e todo o relato evangélico dos Magos, do qual se tomou o lema. Esta passagem tem um valor singular para vós, precisamente porque estais realizando um processo de discernimento e comprovação do chamado ao sacerdócio: Sobre isso quero deter-me a refletir convosco.
Porque os Magos foram à Belém desde países distantes? A resposta está em relação com o mistério da «estrela» que viram «nascer» e que identificaram como a estrela do «Rei dos Judeus», ou seja, como o sinal do nascimento do Messias (cf. Mt 2,2). Portanto, sua viagem foi motivada por uma forte esperança, que logo teve na estrela sua confirmação e guia para com o “Rei dos Judeus”, para a realeza de Deus mesmo. Os Magos foram porque tinham um desejo grande que os induziu a deixar tudo e a colocar-se a caminho. Era como se tivessem esperado sempre aquela estrela. Como se aquela viagem tivesse estado sempre inscrita em seu destino, que agora finalmente se cumpre. Queridos amigos, isto é o mistério do chamado, da vocação; mistério que afeta à vida de todo cristão, mas que se manifesta com maior relevo nos que Cristo convida a deixar tudo para segui-lo mais de perto. O seminarista vive a beleza do chamado no momento que poderíamos definir de «enamoramento». Seu ânimo, cheio de assombro, lhe faz dizer na oração: Senhor, por que precisamente a mim? Mas o amor não tem um «porquê», é um dom gratuito ao que responde com a entrega de si mesmo.
O seminário é um tempo destinado à formação e ao discernimento. A formação, como bem sabeis, tem várias dimensões que convergem na unidade da pessoa: essa compreende o âmbito humano, espiritual e cultural. Seu objetivo mais profundo é o de fazer conhecer intimamente aquele Deus que em Jesus Cristo nos mostrou seu rosto. Por isto é necessário um estudo profundo da Sagrada Escritura como também da fé e da vida da Igreja, na qual a Escritura permanece como palavra viva. Tudo isto deve enlaçar-se com as perguntas de nossa razão e, portanto, com o contexto da vida humana de hoje. Este estudo, às vezes, pode parecer pesado, mas constitui uma parte insubstituível de nosso encontro com Cristo e de nosso chamado a anunciá-lo. Tudo contribui a desenvolver uma personalidade coerente e equilibrada, capaz de assumir validamente a missão presbiteral e levá-la a cabo depois, responsavelmente. O papel dos formadores é decisivo: a qualidade do presbítero em uma Igreja particular depende em boa parte da do seminário e, portanto, da qualidade dos responsáveis da formação.
Queridos seminaristas, precisamente por isso rezamos hoje com viva gratidão por todos vossos superiores, professores e educadores, que sentimos espiritualmente presentes neste encontro. Peçamos a Deus que desempenhe o melhor possível a tarefa tão importante que se lhes confiou. O seminário é um tempo de caminho, de busca, mas sobretudo de descobrimento de Cristo. Com efeito, só se tem uma experiência pessoal de Cristo, o jovem pode compreender em verdade sua vontade portanto a própria vocação. Quanto mais conheces a Jesus, mais te atrai seu ministério; quanto mais o encontras, mais forte é o desejo de buscá-lo. É um movimento do espírito que dura toda a vida, e que no seminário passa como uma estação cheia de promessas, sua «primavera».
Ao chegar a Belém, os Magos «entraram na casa, vieram à criança com Maria, sua mãe, e caindo de joelhos o adoraram» (Mt 2,11). Eis aqui, por fim, o momento tão esperado: o encontro com Jesus. «Entraram na casa»: esta casa representa em certo modo a Igreja. Para encontrar o Salvador há que entrar na casa, que é a Igreja. Durante o tempo do seminário se produz um amadurecimento particularmente significativo na consciência do jovem seminarista: já não vê à Igreja «desde fora», mas a sente, por assim dizer, «em seu interior», como «sua casa», porque é casa de Cristo, onde «habita» Maria, sua mãe. E é justamente a Mãe quem lhe mostra a Jesus, seu Filho, quem o apresenta; em certo modo o faz ver, tocar, tomá-lo em seus braços. Maria lhe ensina a contemplá-lo com os olhos do coração e a viver dEle. Em todos os momentos da vida no seminário se pode experimentar esta afetuosa presença da Virgem, que introduz a cada um ao encontro com Cristo no silêncio da meditação, na oração e na fraternidade. Maria ajuda a encontrar ao Senhor sobretudo na Celebração eucarística, quando na Palavra e no Pão consagrado se faz nosso alimento espiritual cotidiano.
«E caindo de joelhos o adoraram...; ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra» (Mt 2, 11-12). Com isto, culmina todo o itinerário: o encontro se converte em adoração, dando lugar a um ato de fé e amor que reconhece em Jesus, nascido de Maria, o Filho de Deus feito homem. Como não ver prefigurado no gesto dos Magos a fé de Simão Pedro e dos Apóstolos, a fé de Paulo e de todos os santos, em particular dos santos seminaristas e sacerdotes que marcaram os dois mil anos de história da Igreja? O segredo da santidade é a amizade com Cristo e a adesão fiel a sua vontade. «Cristo é tudo para nós», dizia Santo Ambrósio; e São Bento exortava a não antepor nada ao amor de Cristo. Que Cristo seja tudo para vós. Especialmente vós, queridos seminaristas, oferecei a Ele o mais precioso que tens, como sugeria o venerado João Paulo II em sua Mensagem para esta Jornada Mundial: o ouro de vossa liberdade, o incenso de vossa oração fervorosa, a mirra de vosso afeto mais profundo (cf. n. 4).
O seminário é um tempo de preparação para a missão. Os Magos «foram para sua terra», e certamente deram testemunho do encontro com o Rei dos Judeus. Também vós, depois do longo e necessário itinerário formativo do seminário, sereis enviados para ser os ministros de Cristo; cada um de vós voltará entre o povo como alter Christus. Na viagem de volta, os Magos tiveram que enfrentar seguramente perigos, sacrifícios, desorientação, dúvidas... já não tinham a estrela para guiá-los! Agora a luz estava dentro deles. Agora tinham que guardá-la e alimentá-la com a memória constante de Cristo, de seu Rosto santo, de seu Amor inefável. Queridos seminaristas! Se Deus quiser, também vós um dia, consagrados pelo Espírito Santo, iniciareis vossa missão. Recordai sempre as palavras de Jesus: «Permanecei em meu amor» (Jo 15, 9). Se permaneceis em Cristo, dareis muito fruto. Não fostes vós que O escolhestes, mas Ele vos elegeu (Jo 15, 16). Eis aí o segredo de vossa vocação e de vossa missão! Está guardado no coração imaculado de Maria, que vela com amor materno sobre cada um de vós. Recorrei frequentemente a Ela com confiança. Eu vos asseguro meu afeto e minha oração cotidiana, e vos abençôo de coração.

Sem comentários: